quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Pipoqueira

Me poupe!
Pipocar pipoca pouca 
Pô!
Se poupo
O quê que eu papo?
Poupar ficou pra Papa
Que poupa o aborto
A eutanásia.
Que poupe o Papa a pipa
Se poupo o Papa
Pipoco a vida!
- Pô!
                                             

terça-feira, 26 de julho de 2011

Poema Desconcertante

Da casca do ovo tiro o pó
Da gema a ema
E...
No esquentar da pena
Num esquema fecundo
Nasce um poema
Pernalta
Pescoçudo
Intruso no tempo
A correr ao vento...

... Há uma pena que flutua
Solta no ar
A riscar o espaço...
De repente, rasga-o
Rente e fugaz
- Estabanada nave.
Mas o poema, este fica
De pés no chão
Tal qual
A própria ave.
                                                                

O Fio da Meada

Ambíguas palavras
Pirotecnia da vida
- Proselitismo - 
Letras entrelaçadas
Embaraçadas palavras
Fios
Em novelinhos de linha...

- Avia, seu moço
Desembarace essa 'cianinha'!
Não ouves lá fora 
Choro de criancinhas?

- Não, não ouço... 
Não vejo nada
Aninha
Amada
Apenas desejo... 
Só tento encontrar
O fio da meada!
                                                

A Revolução das Tripas

Que sente o Sr. Narciso?... dor de barriga
Por nutrir muito otimismo.

Que sente a D. Joana?... dor de barriga
Por alimentar muita esperança.

E a pobre da  Ernesta?... dor de barriga
Por engolir muita promessa.

Que sente o Sr. João?... dor de barriga
Por ver demais televisão.

Que sente o Sr. Ramires?... dor de barriga
Por assistir demais latas de filmes.

E a coitada da Isôlda?... dor de barriga
Só de tanto tomar sopa.

Resultado:        
. O Sr. Narciso vomitou o país
. A D. Joana vomitou o governo
. A pobre da Ernesta vomitou políticos
. O Sr. João vomitou artistas
. O Sr. Ramires vomitou camundongos
. E a Isôlda, coitada, nem pôde vomitar...  
                                                                                                     

sábado, 16 de julho de 2011

Autofagia

                                                                 (ou vergonha de pedir ou
                                                             displicência da baiana)

Na "Skina 20"
Tem banca de acarajé
Não tem jacaré!
Lá vi Jé sem cara
Como tatu
De pés na calçada
Torcendo pelos carros
Que frente passavam
Não passassem por cima
Das bandas de um acarajé
Que um alguem jogara.

Cara de fome
Pressente uma combe
Seu pedaço ir esmagar
E se senta nos asfalto
Esticando uma perna
Tentando
Sua fome salvar...

...E não perdoa os transeuntes
Que assistem à toa
A cara do Jé
Comer a própria carne
Da perna esfacelada
Pela terrível combe
Até que
Uma ambulância
Providencial
Lhe pega
E come
E some.
                                                  

Mar de Rosas

Pediu divorcio do ócio
Trocou baralho por trabalho
Arregaçou as mangas
E plantou no regaço

Cultivou estrelas mil
Viu carretas de bois
Carreando pelos céus
Pedaços de seu chão

Cercou "Maravilha"
De novilhas e de rosas
Construiu seu império
Paraíso em carro céu

Assistiu seu rebanho
Se banhando pelo rio
Rio que virou mar
Criando peixes de ouro

Armou rede entre as galáxias
Relaxou o corpo e a mente
E acabou dormindo pra sempre
Em seu eterno mar de rosas.
                                                                   

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vovô Mar

Grande amigo e bravo mar
- Quanto tempo!
Nunca envelheces
Apesar das pontas brancas de teus longos cabelos
Esparramarem ininterruptamente por estas imensas e pisadas praias...
 
Sim
Compreendo agora toda essa tua calma
Queres ensinar o meu filho a nadar, a surfar
- Toma, leve-o
Sempre confiei em ti
Não é agora que...

E o meu filho vai, vai, vai...

De repente ele volta numa alegria enorme
Deslizando risonho sobre as ondas
Daqueles longos cabelos
- Assim como os seus -
Esvoaçados pelo vento
- Já forte!...

*

 ... - Nada mais seguro quanto os braços
Quando eles se entrelaçam
Num forte abraço.
                                                                          

Um Dia de Inverno

Que tempo feio!
Esteio de um mundo
Frio e calculista

Que dia mais feio!
Seio de uma vida
Com sede de justiça

- Mas esta água é suja...
- Mas essa chuva é justa!
                                                                     

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Paisagem Urbana

Passa na praça depressa
Pernas e braços
Braços e pernas
Negros braços e brancas pernas
Num ir e vir e vice versa

Passa na praça num passar sem conta
Gente diversa
Flui por suas artérias
Um sangue difuso
O que lhes dá essa vida tonta
Mas, alegre...

E viva a praça
Onde a vida existe
E passa.
                                               

Olhando a Rua

Estou sentado na calçada
Não, não estou triste
Nem fazendo hora, aliás
Seria bom que assim o fosse
- Ah, se eu pudesse!
Ao menos alongaria mais
Esse tempo alegre que ora me resta
Gostando de olhar a rua
De ver passar o vento
O tempo, a vida, enfim...
De ver crescer a esperança
De chegar até mim aquele amor
Que ainda não passou.
                                                                     

Quarto Solidão

Enquanto ela não vem
Os meus olhos mordem o tempo
Lentamente
Engolindo em seco
As horas mastigadas
Por uma solidão voraz
 E a minha boca
Assiste melancolicamente
A dança das partículas
Que singram a superfície espectral
De um tênue feixe de luz...
 - Fresta de sol no telhado
Greta de fogo lançando em meu peito
Lâminas finas polvorim
De projéteis vaporizados...
... Até que uma porta se abre
E um vento corre a se esconder
Por de traz da cortina
Balançando a vidraça.
 - É a solidão que foge
Agora mórbida
Diante uma graciosa figura de vida
Vida que vai matando a morte em mim
A cada vez que me visita
 - Oh, linda musa mulher
Minha deusa forte
Não deixes que o meu coração desbote!
Acolha-me em tua boca
E impulsione a canção de uma fonte
 Bem distante!...
Tão longe quanto perto
Possamos estar das águas
A cantar
A rolar
A amar.