segunda-feira, 19 de setembro de 2011

É Hoje!

É hoje!
É hoje o novo dia que tanto esperamos ontem
- Nada de lindo, nada de novo
E que chega assim já tão velho
Quanto aquele relogio arranhado pelo tempo
- Nada a nos acrescentar
A não ser mais tristes horas a um passado concreto

Esse tempo feio
Sujo
Seco
Seca até corações expostos ao amor

É hoje!
É hoje o novo dia que tanto esperamos ontem
- Nada de novo
A não ser mais lixo no meio da rua.

Mundo Cão

Olha o menino
O cão
O osso
Olha o canino

Pensar em canino
Lembra-me o dente
Pensar em cão
Lembra-me o animal

Lembra-me até gente
Satanás
E o diabo a quatro

Ou mais...
Até ir dormir confiante
De que ainda sou humano.

Olhos-Sol-Flash

O Sol hoje nasceu cedo
Primeiro flagrante: monturos
- Miserabilidade ao redor
Segundo: urubús em cima do muro...

- Ué!... do muro?!
- Sim
- ...

- E o que achas de tudo?
- Nada
- E o que achas do nada?
- Tudo.

- Pois é, neste mundo
Há gente pra tudo
- Mas nada pra 'gente'.

Cena Anatômica

Não tirem os olhos
Antes, arregalem-nos!

Olhem o menino
Os olhos

Olhem o úmero, o rádio
O cúbito

Olhem a barriga
O sacro

Olhem o fêmur, a tíbia
O perônio

- Ei-lo vivo!

Não tirem os olhos
Antes, arregalem-nos!






domingo, 7 de agosto de 2011

Estatua Viva

                                  Poema em homenagem ao grande poeta baiano Castro Alves
                      (in memoriam)       


Por ciúme das estrelas
É que me prende a terra
Por esta terra
É que me prende um chão
Por este chão
É que me prende uma praça
Por esta praça
É que me prende uma pedra...

 Que esta pedra que me prende os pés
E essa aurora radiante a me prender a visão
Seja tudo pelo amor da massa
Que me fez poeta
  Que me fez pedra
Para não fugir
Nem morrer.
                                                         


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Silencio do Nosso Amor

O silêncio do nosso amor
Se confunde
Com o silêncio da madrugada
Que penetra no escuro do quarto
De uma noite quente
Fremente
Fremente como o arfar dos corpos
Que atiçam a chama
De um amor que acende
Acende a ponta desse silêncio
Que penetra sexo adentro
Na calada da amante
                                         noite
                                                      que
Depois abraça o meu corpo
Sonolento
Lento como o caminhar da preguiça
Do acordar mais cedo.
                                                             

O Mendigo e o Edificio

O edifício cresce
Cresce com a grandeza
De um ser todo poderoso
A calçada fede
Fede com as impurezas
De um ser todo pobridoso

Um embaixo outro em cima
O de baixo pensa:
- Uma coisa eu sei
Sei que ele invade
No entanto sou evadido
Quando tento invadir

Eu careço e perco vida
Ele encarece e ganha vida
Careço do que ele oferece
No entanto morro
E só então terei forro...

Se ele também pensasse
Talvez me desse
Mesmo que esperasse
Parte da vida
De mim consumida...

Mas ele não pensa
Ele é duro e tapado
Sua cabeça é de ferro
E seu coração
De cimento armado.
                                                                      


O Bairro e a Morena

Vou me banhar no Rio Vermelho
Rio que corre em tuas veias
Menina bela
Morena da praia
Minha sereia e minha arraia
Minha bola e meu anzol
És a cachaça e o meu terno
O meu sorriso de sol na areia
E o meu doce lençol de inverno

Quero viver teus encantos
Tua arte
Tua magia
Ser cantor ator ou poeta
Cantar tua gente
Tua vida
Tua historia
Mar amor e festa

Quero te saudar
Célula rio da vida
Que cresce e multiplica
Tão bela
E de energia plena!...

E só morrer
Inteiramente afogado em ti
Querido bairro
Querida morena.
                                                              

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Pipoqueira

Me poupe!
Pipocar pipoca pouca 
Pô!
Se poupo
O quê que eu papo?
Poupar ficou pra Papa
Que poupa o aborto
A eutanásia.
Que poupe o Papa a pipa
Se poupo o Papa
Pipoco a vida!
- Pô!
                                             

terça-feira, 26 de julho de 2011

Poema Desconcertante

Da casca do ovo tiro o pó
Da gema a ema
E...
No esquentar da pena
Num esquema fecundo
Nasce um poema
Pernalta
Pescoçudo
Intruso no tempo
A correr ao vento...

... Há uma pena que flutua
Solta no ar
A riscar o espaço...
De repente, rasga-o
Rente e fugaz
- Estabanada nave.
Mas o poema, este fica
De pés no chão
Tal qual
A própria ave.
                                                                

O Fio da Meada

Ambíguas palavras
Pirotecnia da vida
- Proselitismo - 
Letras entrelaçadas
Embaraçadas palavras
Fios
Em novelinhos de linha...

- Avia, seu moço
Desembarace essa 'cianinha'!
Não ouves lá fora 
Choro de criancinhas?

- Não, não ouço... 
Não vejo nada
Aninha
Amada
Apenas desejo... 
Só tento encontrar
O fio da meada!
                                                

A Revolução das Tripas

Que sente o Sr. Narciso?... dor de barriga
Por nutrir muito otimismo.

Que sente a D. Joana?... dor de barriga
Por alimentar muita esperança.

E a pobre da  Ernesta?... dor de barriga
Por engolir muita promessa.

Que sente o Sr. João?... dor de barriga
Por ver demais televisão.

Que sente o Sr. Ramires?... dor de barriga
Por assistir demais latas de filmes.

E a coitada da Isôlda?... dor de barriga
Só de tanto tomar sopa.

Resultado:        
. O Sr. Narciso vomitou o país
. A D. Joana vomitou o governo
. A pobre da Ernesta vomitou políticos
. O Sr. João vomitou artistas
. O Sr. Ramires vomitou camundongos
. E a Isôlda, coitada, nem pôde vomitar...  
                                                                                                     

sábado, 16 de julho de 2011

Autofagia

                                                                 (ou vergonha de pedir ou
                                                             displicência da baiana)

Na "Skina 20"
Tem banca de acarajé
Não tem jacaré!
Lá vi Jé sem cara
Como tatu
De pés na calçada
Torcendo pelos carros
Que frente passavam
Não passassem por cima
Das bandas de um acarajé
Que um alguem jogara.

Cara de fome
Pressente uma combe
Seu pedaço ir esmagar
E se senta nos asfalto
Esticando uma perna
Tentando
Sua fome salvar...

...E não perdoa os transeuntes
Que assistem à toa
A cara do Jé
Comer a própria carne
Da perna esfacelada
Pela terrível combe
Até que
Uma ambulância
Providencial
Lhe pega
E come
E some.
                                                  

Mar de Rosas

Pediu divorcio do ócio
Trocou baralho por trabalho
Arregaçou as mangas
E plantou no regaço

Cultivou estrelas mil
Viu carretas de bois
Carreando pelos céus
Pedaços de seu chão

Cercou "Maravilha"
De novilhas e de rosas
Construiu seu império
Paraíso em carro céu

Assistiu seu rebanho
Se banhando pelo rio
Rio que virou mar
Criando peixes de ouro

Armou rede entre as galáxias
Relaxou o corpo e a mente
E acabou dormindo pra sempre
Em seu eterno mar de rosas.
                                                                   

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vovô Mar

Grande amigo e bravo mar
- Quanto tempo!
Nunca envelheces
Apesar das pontas brancas de teus longos cabelos
Esparramarem ininterruptamente por estas imensas e pisadas praias...
 
Sim
Compreendo agora toda essa tua calma
Queres ensinar o meu filho a nadar, a surfar
- Toma, leve-o
Sempre confiei em ti
Não é agora que...

E o meu filho vai, vai, vai...

De repente ele volta numa alegria enorme
Deslizando risonho sobre as ondas
Daqueles longos cabelos
- Assim como os seus -
Esvoaçados pelo vento
- Já forte!...

*

 ... - Nada mais seguro quanto os braços
Quando eles se entrelaçam
Num forte abraço.
                                                                          

Um Dia de Inverno

Que tempo feio!
Esteio de um mundo
Frio e calculista

Que dia mais feio!
Seio de uma vida
Com sede de justiça

- Mas esta água é suja...
- Mas essa chuva é justa!
                                                                     

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Paisagem Urbana

Passa na praça depressa
Pernas e braços
Braços e pernas
Negros braços e brancas pernas
Num ir e vir e vice versa

Passa na praça num passar sem conta
Gente diversa
Flui por suas artérias
Um sangue difuso
O que lhes dá essa vida tonta
Mas, alegre...

E viva a praça
Onde a vida existe
E passa.
                                               

Olhando a Rua

Estou sentado na calçada
Não, não estou triste
Nem fazendo hora, aliás
Seria bom que assim o fosse
- Ah, se eu pudesse!
Ao menos alongaria mais
Esse tempo alegre que ora me resta
Gostando de olhar a rua
De ver passar o vento
O tempo, a vida, enfim...
De ver crescer a esperança
De chegar até mim aquele amor
Que ainda não passou.
                                                                     

Quarto Solidão

Enquanto ela não vem
Os meus olhos mordem o tempo
Lentamente
Engolindo em seco
As horas mastigadas
Por uma solidão voraz
 E a minha boca
Assiste melancolicamente
A dança das partículas
Que singram a superfície espectral
De um tênue feixe de luz...
 - Fresta de sol no telhado
Greta de fogo lançando em meu peito
Lâminas finas polvorim
De projéteis vaporizados...
... Até que uma porta se abre
E um vento corre a se esconder
Por de traz da cortina
Balançando a vidraça.
 - É a solidão que foge
Agora mórbida
Diante uma graciosa figura de vida
Vida que vai matando a morte em mim
A cada vez que me visita
 - Oh, linda musa mulher
Minha deusa forte
Não deixes que o meu coração desbote!
Acolha-me em tua boca
E impulsione a canção de uma fonte
 Bem distante!...
Tão longe quanto perto
Possamos estar das águas
A cantar
A rolar
A amar.
                                               


domingo, 19 de junho de 2011

A Liberdade das Palavras

É hora!
Inda bem não peguei na pena
E as palavras já fogem assim
Que nem passarinho da gaiola...

As palavras são assim mesmas
Livres e independentes
Elas não gostam de estar tão presas
Como as de um livro fechado
- Abafadas -
Clamando por liberdade!
                                                            

Casulo

Durma com esse barulho!
Eu preciso de um entulho
Pra nivelar a minha casa
E me livrar do susto
Que me embrulham lá fora

Por isso é que me abuso
Pego o búzio
Coloco-o no ouvido
E ouço aquele marulho
- O mar maroto
Amarrotando o meu arroto
De miséria no ar

Mas você veja lá
A gente nove meses acostumado
Numa bel mordomia
E num repente nascer...

Por isso a gente nunca mais esquece
E vive sempre a procurar abrigo
No mínimo um cobertor
Para nos aquecer!
                                                      

terça-feira, 7 de junho de 2011

O C de Calma

Ah! Gerdalva, Gerdalva
Não sei o que seria de mim
Se não fosse o C
A me tocar a alma!
                                               

Concha Acústica

Pelos percalços da vida
Sigo descalço
No encalço da canção
Não desejo olvidar
Dessa concha acústica 
Que ora os meus ouvidos devoram
E me abrem o coração...
 Ruídos
 Todos eles se dispersarão um dia
 No avanço da tecnologia...
 Mas, que não se dispersem jamais
Esse som
Esse dom
Esse tom do Tom
Esse ano do Caetano
Esse Gil do Gilberto
Esse tio do João
 Esse vício do Caymmi
Que caiu tão bem no Vinícius
 Tampouco o Toquinho
Nem esse Chico do Francisco.
Pois o cisco que cai no olho
Não ataca os ouvidos
 E dos idos do ovo
Os meus pés descalços
Calçarão um sapato novo
E o lombo da sola será macia
- Supermacia -
Como a pele das faces
Que mãos leves acariciam.
                                                                          

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Terra Prímula

Há uma terra
Prímula
Simpatia
Do bem
E da paz
Concha acústica
De toda voz

Há uma terra
Teia de gente
Abrigos
Repletos de luz
Homens honestos
Trabalhadores sequiosos
De direitos humanos

Há uma terra
Gente modesta
Refuta caras de vidro
Espelhos
Espalhados
Fechados
Inaudíveis à canção

Há uma terra
Num porvir
E num cantar
Um canto soturno
À altura do ombro
É a canção que mantém
A dignidade do homem.
                                                                     

Movimento Inercial

O tempo passa
Treme o ar
O sol se põe
Morre o dia
A noite dorme
Geme silêncio
Para parir
Outro dia
De angústia
Aflição
Tormento
Infração
Falcatruas
Fadiga
Inflação
E uma flexãozinha...
Para depois dormir também
Sem ter resolvido nada.
                   

À Vitória da Conquista do Amor

Serra após serra
O ônibus a balouçar
Nos leva à tua terra
A estrada em asfalto alto
É o salto preto do teu sapato

Vais tão terna deitada em meu colo!
Solo depredado dado a pedras
Os corpos no vai e vem
Os corações tambem depredam

Pulsação na mão prendada
Prende a pedra do anel
Tua terra manto lindo
Tem no alto um belo Cristo
Visto acima um perto céu

Com Lúcius Flávius e Pixotes
Aos galopes por este País
Giz de sangue melado
A teu lado neste trâmite
Até gelado eu peço bis

Sol entrando o céu aberto
Reflete a luz deduz a cor
Vais tão terna deitada em meu colo
À Vitória da Conquista do amor.
                                                                                

Reflexsol

Acorda mais uma manhã
De olhos esbugalhados abre o sol
Olha a vida
De olhos arregalados abre o sol
Rega a vida

Furtam cores os teus olhos de cílios negros
Como o sol de cílios loiros
Furta as cores verdes mate matizadas
De arcoíris em gotas 
De pétalas orvalhadas

De pernas de metralhas
Furtam pérolas os bandidos
Roubam flores ladrões mascarados
Temidos por girassóis
Gigantes arregalados

Pinta o sol as melenas tuas
A desafiar a brisa nua
Das manhãs ao acordar

Pinta o sol 
Para arregalar os olhos da terra
Pinta a terra tão bem o sol!
                                                               

quinta-feira, 26 de maio de 2011

SENHORA

Senhora! zombaste de mim e hoje choras
...Ao ver que mudaram tanto os teus encantos
Nem reconheço em ti a altivez de outrora
Nem beleza que inspirou meus cantos

Senhora! eu era o mendigo
E teu amor, era a esmola que trôpego implorava
Tu, zombando de mim, o adorado calor dos teus beijos
A outro entregavas

Senhora! os tempos mudaram
E agora, rosa desfolhada
Não será mais beijada
Pelos lábios mornos que a procuravam outrora

Senhora! tu que me imploras beijos agora
E confessas mais que desejos
Assim como ontem, tu
Eu os negarei.
Autor: Xenaldo Matos Rocha (Didio), o primo que se foi cedo, mas nos deixou esta pérola tão linda! Ele não teve a paciência de viver, (talvez esperar). Muitos não se atentam pela importância ou do transcendentalismo existente na palavra PACIÊNCIA.  Ela significa paz, amor, serenidade, tranquilidade, e muitos não a apreciam, ou não sabem curtí-la. Faz parte da ciência do 'viver'.
 

 

terça-feira, 24 de maio de 2011

Minha Fruta Pão

És tu
Fruta pão da minha vida
Grande flor
Flora Feliz

Me acordas na fragrância do café da manhã
E me forras durante o dia
Até o banho no rio da tarde
Sol
Suor 
E sal
Em enxurradas rasgando a terra
A alimentá-la

Flora feliz
És tu
Somos nós
Amigos da fauna
A jantar as farturas das horas
E as delícias da rede
Descansando feliz.
                                                              

O Deboche do Mar

O mar parece dar gargalhadas
Tamanha a sua alegria
Que se vê a brancura dos dentes
Em sua bocarra risonha

Parece rir de mim
Aqui bêbado, triste e sozinho...
É, mas parece estar mais bêbado do que eu
E essa sua euforia tem óbvia razão de ser
Ao menos tem a praia para beijar...

Melhor ir embora daqui
Fugir destas suas sarcásticas risadas
Pior do que ir é ter que ficar
E suportar monstruosa ressaca!
                                                                           

domingo, 15 de maio de 2011

Poeta Passarinho

O poeta hoje acordou cedo
E saiu por aí
Desprendendo a língua
E soltando palavras...
 - Um pássaro à solta
Cantando a cada novo amanhecer...

... E quando chegar a tardezinha
Feliz ele voltará a cantar
Como se fosse cada dia
O seu último dia...

- Deus queira que a palavra não me falte
Que um moleque não me amole
Que uma bala não me mate
Detesto bala de bodoque!

                                                  


terça-feira, 10 de maio de 2011

Esperança

A esperança é como criança que sonha
Sonha e não quer acordar
Não cansa de esperar, acreditar
Não deixa de criar.
Esperança inocente
Parece que pressente
Teima
 Persiste
E brota da lembrança
Da palavra
Da ânsia
Luta para quem sabe... vencer
Doçura e dor, na esperança!
         

Pétala seca dentro do livro
um ramalhete de Amor
despetala
fossiliza n'alma suas cores
composição de ilusões
realidade ou não
viveu!
                                                                 Ana Matos 
                                                                      Minha poetisa

Ladra Louca


Aquela ladra me roubou
Só faltou levar as minhas roupas
Além de me enganar no quilo
Me pegou também na arroba
Ladra louca!

Roubou uma arroba de meu feijão
Uma arroba de meu arroz
Uma arroba de meu café
E uma arroba de meu boi
 Ladra louca!

Só não roubou uma arroba de meu amor
Porque só encontrou um quilo
  E por isso mesmo fugiu
Rebolando aquela arroba de seu corpo
Ladra louca!

Roubou-me inclusive do Gregório
Uma linda poesia barroca
Ladra louca!

Quem pegar aquela ladra
Juro que dou uma arroba de minh'alma
Um coração inteiro
Só não digo que dou
Uma arroba de meu dinheiro
Porque isso ela também roubou.
Ladra louca!
                                             



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Férias

Com essa poupança
pouca
O que me resta agora?...
Pipocar
Saquinhos de pipoca!
                                               
                                                   





Maria Fura Bolo (aniversário)

  A Maria fura o bolo
E de alegria pula
Mas logo fica fula!
Quando percebe aflita
Que ele vai se acabando
Como  vida.
                                 

Minha Flor

'Onze horas'
As florezinhas se abrem...
 Enfim
- Um justo e doce momento
De alegrar da labuta
A dona do jardim.
                                           

Novo Tempo

Das arquibancadas do tempo
O poeta de seu canto
Assiste no palco do mundo
Grandiosa encenação

Entre balanços, saltimbancos
Aos trancos e barrancos
Uma vida passa, aura simpática
Em peloticas do infortúnio

Essa vida, grávida do tempo
Parece bem feliz bailando, bailando...
E assim levando
 Vai empurrando com a barriga
O seu próprio sonho...

Mas eis que de repente, ao longe
Um grande clarão desponta
E aponta bem daquele ventre
O nascer de um novo tempo

Todos, pasmados, exclamam:
- Que lindo rebento!

E o poeta de seu canto
Agora alegre e risonho
Vê nascer esse novo tempo
O que era só sonho.
                                            

sábado, 30 de abril de 2011

O Preço do Progresso

Imerso em meu ser
Me vejo em metamorfose
com um percevejo
o percevejo e eu
Eu e o percevejo

De repente eis que surge
Um grande enigma
- Símbolo da vida -
Então percebo e vejo...

O mundo ao redor
Roda ao avesso
O inverso contra um terço
Reza um terço contra um meio
- Um meio turgescente
Sente o progresso

Os animais caminhando
Uns vão voando
Os que rastejam sofrem
E os sem ingressos
Tiram dos cofres
Apenas versos:

*

- Pobres de nós com as feridas
As narinas vulcânicas
Espirrando lavas incandescentes
E lágrimas dos olhos de brasa
Escorrendo até às bocas de fogo
Das crateras da vida.

*

- Se no objetivo o amor é zero
Por que não pôr fim a essa gula 
A gula insaciável
Da medula do 'progresso'?!

*

- Existe uma massa como a asfáltica
Onde máquinas passam por cima
Em nome do 'progresso'.

*

- Ai de mim, ai de ti
Ai de nós aqui
- Haiti.

*

- Existem dois tipos de fome:
a que causa a angústia e a miséria
e a que provoca a gula dos insaciáveis
- Cabe a todos combatê-las.

*

- Trepado a uma árvore
um bichinho imita o verde
e Louva-a-Deus para que ninguém o veja.

*

- Já não existem mais olhares tão meigos
quantos os da gata da janela
do meu quintal.

*

- ....
                                                 


Masmorra


Outrora a aurora laureava
A quietude meiguice de encantos
Milmente primaveril...
Primando pelas coisas bonitas
Gostosas, luminosas e silva da vida

Agora centelha espelha estilhaço
Paisagem queimada
Sinuosa angústia negra
Cinzental morbidão
Mordida na agucite das tenebrosidades
Longitudinais
Vínculos de sangue pisado
Recalcado na lembrança
Esperança de paraíso
Grudada na saudade

Desmoronando o porão de lágrimas
Líricas cristalizadas
Embrutecendo em enxurradas
Os verdões campestres pastorical
Florridentementes magoados

Costumeiramente o curtume está curtindo
E fundindo a nuca do marroá marrom indo Brasil
Pois é insuportável o suporte
Que não suporta mais a cuca
Cunhada com lascas históricas
Argamassa estrutural
No vento relâmpagos cambiantes
De beijos reprimidos
Olhares nativos rubis de fogo
Erotizados como sóis
Crivalizados em corações diamantes
Reluzindo as cores de ribalta
E a massa granfina de biscoito palito
Desmistificou o mito
Desnudando de uma vez por todas
O fanatizado guerreiro solidão

Hoje eu estou aqui, você aí
Outros lá, acolá, no alem
Do barro, o sopro da vida
Que em algum momento
Num segundo se esvai

Assim, a vida se perde no horizonte
Dos desejos, nos labirintos das paixões
E renasce na utopia dos meus sonhos
Sentimentos nobres, saudades
Lar doce vida, perdidas ilusões.

Autor: Isaias Matos Júnior,
     Poeta e compositor iguaiense.
      Em 1973 foi preso e torturado
                                                               pelo então regime militar
     e até hoje aguarda reparação
      por parte do estado brasileiro
  pelos danos físicos e morais
                                                              de que fora vítima.





terça-feira, 26 de abril de 2011

Patife de Bancarrota

Nessa vida intolerante
Tu, errante, te atolas
Amolas punhal da morte
E te açoitas porta afora
Como fosse chegada a hora
De acabar sofreguidão
Guidão, guidon
Guidão guiado à toa
Se espatifa pelo chão
Patife de bancarrota!

Com festas e pentecostes
E sete bocas nas costas
- Que importa apostar na provisão
Que importa o clarão lá fora
Se há escuridão por dentro!
Sem o acalento dos dias
E nas noites de insônia
- Como podes ser camarada
de pai do sono, pai de Sônia!

Quando tu pestanas ele te atazana
Te pega feroz em sonhos alucinantes
De lucidez de punhais
Te apunhalando sem sangue

Pai do sono é "Emoron Pódole"
Quando ele vem te deixa mole
Sem raça e sem força
Te faz retornar ao tempo
Em que foras somente
Pé de vassoura.

                         

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tragédia

Quanta desgraça
Tanta miséria
- Meu Deus,
Quanta destruição!

Quantas imagens já se passaram
pela visão de nós todos - seres humanos...
Tanto alerta já foi dado
Tantas coisas lindas já foram ditas
E ainda assim
Quantos não conseguem enxergá-las!

Desde quando e até quando
- Que mundo é este meu Deus!

- Perdão, Senhor!
É que eu não sabia que ainda existem tantos 
que não conseguem enxergar nem a si mesmos.

- Perdão, Senhor!
É que eu não sabia
que eles ainda não sabem o que fazem.

                                             



sexta-feira, 22 de abril de 2011

Poeta Sem Letra

O poeta está na avenida de pés na calçada
Contemplando o horizonte...
Quando de repente
Aproxima um sujeito maltrapilho
E estendendo-lhe a mão
Humildemente suplica:

- Dá u'a poesia pelo amor de Deus...
- Dá u'a poesia pelo amor de Deus!...
Então o poeta retruca:

- Meu caro plebeu
Por este teu pedido
Por este teu semblante
Te digo deslumbrante:

- És mais poeta do que eu...
Diante este cenário
Tu já és a própria poesia
Que os '($)homens' abandonaram.

                                    

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Semana Santa

Um pescador
- Pecador -
Pescando a dor
De pecar.
                                   

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Laço



Armei um laço pra pegar a liberdade
e caiu você,
raposa velha,
usurpadora dos meus sonhos!


Hai-kai

Um passarinho andava pelo meio da rua
bi
                                        can      do                                       s.
                                                       a       vi        da                             a                         
                   quando de repente foi atropelado...       s         
-  Já havia esquecido ele de que tinha  a

Brincando Com a Vida

A vida é tão difícil
E eu brincando com ela
- Veja só!
Mas é porque ela gosta
Ela brinca comigo também
E briga
Mas é só pra que eu diga:
- Que brinco!
És o brinco do meu piau em tuas orelhas
Em pescaria de menino...

É...
Enquanto eu vivo brincando
Ela vive sorrindo
A gozar nossas brincadeiras
Que convidam outras vidas
Para brincar

Assim brincando brincando
Um dia uma vida convidou o mundo
Para também brincar
E brincando brincando...
Ela pariu um mundinho
Que vivia a brincar
Obrigando a seu pai
Uma nova era criar
Para abrigar com amor
Toda a geração...

                                    

O Despertador

O tic tac do relogio
Todo dia tira
Um tico do meu sono
E um taco da minha vida...

Ele desperta a dor do coração
O qual responde:
- Toc toc toc toc...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Vida Torta


Caminho torto
por passeios feios
de calçadas tortas
eu, que sou tão certo!
Vou passando, indo...
- Que importa aberta a porta
quando há gente fechada lá dentro
- Que importa noutra entrar
também há gente lá
pessoas que se abrem
- sinistramente -
naturalmente em portas fechadas.
Apresso o passo
vou passando
pernas comendo ruas
e paralelepípedos pontudos
lambendo os passos...
 Vou que vou
dando as minhas topadas 
aqui e ali
trombando com gente 
de olhar maior do que a barriga
da esquina
que
- saliente e gélida -
parece insinuar a existência
de um pífio rei dentro dela.
Contudo, vou
empertigado, sem destino
os pés feridos
no sapato preferido...
 - Quem sabe não estarei por demais abstêmio
- completamente desatinado -
ou talvez mesmo perdido!
Assim mesmo eu vou
e voo...
Mas como voa o tempo!
E agora 
aqui me encontro de novo
aqui estou
E já passados
acertados todos os passeios
as calçadas continuam tortas 
e eu feio...
Pois tão certo já não sou
já que a vida
Essa vida me entortou.

Meninos de Rua


A vida assina
O que a rua ensina
    E insinua
                     Que nas noites nuas
A lua não é só dos namorados
Mas de criaturas alheias
Nuas
Despidas de lares
De olhares vivos nos semblantes crus

E aqueles que se cruzam
Bem sabem a quem cabem
As agruras dos dias
A largueza das ruas
 Frias
                                Também nuas...

E o poeta pinta no olho da rua
Traga com a boca da noite
A sua cor
                   A sua dor
                                        E canta

    Lança no olho da noite
Cânticos repletos de luz
    E espanta 
                        Quem não sabe olhar...

... E a vida ensina:
- Como é perverso
O olho
da
rua!